Cálculo Renal

Inicialmente devemos encarar o cálculo renal (pedra no rim) como se fosse a “febre” de uma determinada infecção, ou seja, assim como a febre, o cálculo renal representa um alerta de que algo está de errado com o metabolismo daquele organismo e que existe uma causa desconhecida, até então levando a formação de cálculos renais. Sendo assim, SEMPRE devemos investigar a causa dessas pedras nos rins! São vários os fatores predisponentes envolvidos na formação de cálculo renal que geralmente ocorrem com a participação de mais de um desses fatores associados como veremos logo abaixo. Assim sendo, cada pessoa portadora de pedras nos rins deve ser individualmente estudada, pois somente assim chegaremos a um diagnóstico mais preciso e consequentemente a um tratamento preventivo, eficaz, buscando a CURA da doença cálculo renal que na grande maioria das vezes ocorre. A cura e/ou até mesmo diminuição significativa nos episódios de ocorrência de cálculos renais é atingido conforme cada caso e acompanhamento individual.

  1.  Incidência de cálculos renais
  2. Prevalência de cálculos renais
  • Geralmente é maior em homens brancos após os 20 anos, atinge o pico entre 40 e 60 anos de idade e depois diminui.
  • Nas mulheres, a incidência é maior no final dos 20 anos, diminui aos 50 anos e permanece relativamente constante a partir daí.
  • Cálculos renais ocorrem entre 10 e 15% em países desenvolvidos.
  • No Brasil, a incidência de pedras nos rins é estimada ser entre 8 e 10%.

A prevalência tem aumentado nas últimas décadas e tem sido cada vez mais associada a uma série de situações e doenças associadas tais como exposto na tabela 1 abaixo:

 

Tabela 1.

Estilo de vida (sedentarismo, alimentação, profissão, etc)

Região de clima quente

Doenças cardiovasculares

Hipertensão arterial

Diabetes mellitus

Doença renal crônica

Obesidade/Síndrome metabólica

Doenças intestinais

Infecção urinária de repetição

Cirurgia bariátrica

Fraturas

Uso crônico de vários medicamentos

Tumores benignos

 

  1. Recorrência de cálculos renais

          Pode ocorrer novamente a formação de pedras nos rins após o primeiro episódio em 10% dos casos no primeiro ano, 50% após cinco anos e 75% em dez anos.

  1. Fatores predisponentes na formação de pedras nos rins

               Vários fatores estão envolvidos na formação de pedras nos rins como segue abaixo:

- Genéticos

- Individuais: geralmente associado ao “estilo de vida” de cada pessoa. A falta de exercício físico, hidratação e/ou dieta inadequada, podem estar evolvidos, assim como profissão e outros. 

- Ambientais: regiões de clima quente e exposição solar (como no caso de trabalhadores rurais pex.), bem como algumas localizações geográficas espalhadas pelo mundo são os principais fatores ambientais envolvidos.

- Alterações metabólicas na urina (principais): as mais frequentes alterações metabólicas urinárias estão na tabela 2 abaixo.

 

Tabela 2.

Hipercalciúria (excesso de cristais de cálcio na urina)

Hipocitratúria (falta de cristais de citrato na urina)

Hiperuricosúria (excesso de cristais de ácido úrico na urina)

Hiperoxalúria (excesso de cristais de oxalato na urina)

Baixo volume de urina

Anormalidades no pH da urina

     Normalmente, temos que ter “equilíbrio” entre os cristais promotores (ruins) e os cristais protetores (bons) na urina para evitar a formação de pedras nos rins, no entanto, isto NÃO acontece no paciente portador de cálculos renais, ou seja, há um ou mais distúrbio(s) metabólico(s) urinário que leva(m) à formação de cálculos renais.  Diariamente adultos eliminam em média 7.200 cristas na urina.

  1. Sintomas de pedras nos rins
    1. Fontenelle LF, Sarti TD. Kidney Stones: Treatment and Prevention. Am Fam Physician. 2019 Apr 15;99(8):490-496. 

               Geralmente quando estão alojados nos rins, os cálculos renais NÃO provocam sintomas. Pedras nos rins não dói!!!

     O cálculo quando se desloca para o ureter (órgão oco por onde a urina é ordenhada até a bexiga) e o obstrui, surge o primeiro sintoma de dor súbita, tipo cólica, de grande intensidade, geralmente em região lombar que se irradia para o flanco do mesmo lado e em seguida para região inferior do abdome, podendo irradiar para genitália do mesmo lado da dor, seguido de ardência ao urinar, principalmente quando o cálculo se encontra logo acima da bexiga, e finalmente ser expelido. Conhecida como cólica renal, esta dor é extremamente incapacitante, não tendo qualquer posição de alívio. É uma das dores mais intensas que o ser humano pode experimentar.

7. Outros sintomas:

- Náuseas e vômitos;

- Aumento da frequência miccional.

- Sangue na urina (hematúria);

- Febre (geralmente indicador de infecção urinária associada ao cálculo).

 

8. Diagnóstico (história clínica)

     Na história clínica do paciente deve ser investigado doenças e situações associadas a formação de cálculos renais como descrito na tabela 1, bem como a presença ou não de fatores predisponentes como acima citados. Além disso, importante saber, há quanto tempo o paciente é portador dessa doença.

9. Diagnóstico por imagens

     Ultrasonografia realizada por profissional competente hoje em dia é fundamental nesse contexto. Há casos que deixam dúvidas sobre a presença de cálculo (s) renal (is) e nestes casos, indicamos tomografia computadorizada (padrão ouro) sem contraste para elucidar o caso.

10. Tratamento de pedras nos rins

     Sim, o cálculo renal tem CURA! Os principais objetivos no tratamento de pedras nos rins é descartar possíveis doenças sistêmicas e/ou detectar possíveis alterações metabólicas como causa(s) dessa doença renal. Cada uma dessas alterações metabólicas urinárias tem um tratamento individual específico. Cada caso é um caso! 

     Um dos nossos objetivos terapêuticos é orientar o paciente qual a maneira correta e mais adequada de hidratação (poucas pessoas sabem como), bem como orientá-lo a um melhor estilo de vida e dieta, caso a caso, com base no seu perfil metabólico (resultados de exames gerais necessários).

    Tratar cada distúrbio metabólico urinário encontrado de forma individual e com seguimento a cada 3-4 meses até normalização e equilíbrio dos cristais urinários alterados, a depender de cada caso.

 

Referências

  1. Khan SR, Pearle MS, Robertson WG, Gambaro G, Canales BK, Doizi S, Traxer O, Tiselius HG. Kidney stones. Nat Rev Dis Primers. 2016 Feb 25; 2:16008. doi: 10.1038/nrdp.2016.8.